18.9.07


Canção do amor deflorado

Com o andar indolente
levemente excitado
de um plebeu apaixonado
passeio atento
por ilustríssimas quadras
dos bairros nobres da cidade
onde ainda sobrevivem jardins
repletos de vida
cercados de grades.

E não há grade
que me separe
do grande ato infrator:
minhas mãos ligeiras
entre ferros
furtam de fatal delicadeza
as privatizadas flores
dessas suntuosas moradas
que de tão envolvidas
sobre si mesmas
nem percebem os hiatos
que espalho à beira dos jardins.

Dado a exageros
não restrinjo
tais ornamentos
ao pequenino espaço
de um bouquet
até porque
o tanto que tenho
de flores seqüestradas
dentro do meu quarto
não há bacia
jarra ou vaso
que as guarde
bem arrumadas
tal fosse meu lar
a sua casa.

Por isso venho a tua porta
suado de um muro escalado
às tontas
com o peso sutil de pétalas
às costas
para dar-te um roubado jardim
como enfeite à tua escada.

E que este agrado
tornando-me criminoso
graduado
dê-me a esperteza
para realizar
o incontido desejo
de roubar enfim
teu coração
somente para mim.

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