31.10.07

Epitáfio para a minha irreversível morte



E é o dia


da ida


que adia


a vida.
Escassos pêlos


As pernas brancas que jamais beijei
estão molhadas como todo o corpo
e é o jorrar da água neste todo
que eleva a alma em ponto alto
esquerdo
torto.

Por esta brecha um olho só invade
- testemunha purificação.

Sabonete insensual te percorre.
Estás de costas
e de um ponto raro
escassos pêlos.

Quem me dera
se se virasse
sabendo que te vejo.

Mas o pouco que me ilude
desilude
dissolve n’água
quando a toalha
te preenche o corpo
te esvazia a alma.
Do mesmo ponto raro
não mais escassos pêlos.

30.10.07

Soneto do amor de menos


Coração trancafiado a sete chaves
toco a puta com o dedo obsceno
e já exausto das sensações mais leves
transformo o olhar contemplativo em
[insano.

O ritmo ligeiro que nela introduzo
desfigurado de um toque sutil e comedido
irrita minha puta que ora faz de tudo
para tornar-me um homem menos ofensivo.

É que no dia em que amei a puta
a duras penas recebi carinho
de tal maneira nada mais me assusta

que hoje contente por estar sozinho
busco um prazer que apenas me console
- amar demais me deixa de pau mole.

28.10.07

Instante


Bastam poucos minutos concretos
dentro do cemitério
e logo a vida
que vai ali morrida
parece ação rotineira
dos dias corridos.

No doloroso momento
em que vai sepultado o corpo
a frieza do coveiro me alivia.

O frio movimento braçal do coveiro.

NO CAIS NA NOITE NA LANCHA O CAOS EM AÇOITE DESLANCHA NO CAIS NA NOITE O CAOS EM AÇOITE DESLANCHA NO CAIS NA LANCHA O CAOS EM AÇOITE DESLANCHA NO CAOS EM AÇOITE DESLANCHA NA LANCHA O CAOS EM AÇOITE NO CAIS NA NOITE NA LANCHA O CAOS DESLANCHA NO CAIS EM AÇOITE DESLANCHA NO CAIS NA LANCHA EM AÇOITE DESLANCHA NO CAIS O CAOS EM AÇOITE NA NOITE NA LANCHA O CAOS DESLANCHA NO CAIS NA NOITE NA LANCHA DESLANCHA NO CAIS NA NOITE NA LANCHA O CAOS EM AÇOITE NO CAIS O CAOS NA LANCHA O CAOS DESLANCHA NO CAIS NA NOITE NA LANCHA NO CAIS NA NOITE NA LANCHA EM AÇOITE DESLANCHA NO CAIS NA NOITE NA LANCHA NA LANCHA O CAOS EM AÇOITE DESLANCHA NO CAIS NA NOITE EM AÇOITE O CAOS DESLANCHA NO CAIS NA NOITE NA LANCHA O CAOS NA NOITE NA LANCHA O CAOS DESLANCHA NO CAIS EM AÇOITE DESLANCHA NO CAIS NA NOITE NA LANCHA EM AÇOITE DESLANCHA NO CAIS NA NOITE EM AÇOITE NA LANCHA O CAOS DESLANCHA NO CAIS NA NOITE DESLANCHA NO CAIS NA NOITE NA LANCHA NO CAIS NA LANCHA O CAOS DESLANCHA NO CAIS NA NOITE NA LANCHA NO CAIS NA NOITE NA LANCHA EM AÇOITE DESLANCHA NO CAIS NA NOITE NA LANCHA O CAOS EM AÇOITE NO CAIS NA LANCHA O CAOS DESLANCHA NA LANCHA O CAOS EM AÇOITE DESLANCHA NO CAIS NA NOITE NA LANCHA O CAOS EM AÇOITE NA LANCHA NO CAIS NA LANCHA O CAOS EM AÇOITE NO CAIS NA LANCHA NA NOITE O CAOS NO CAIS NA NOITE NA LANCHA DOM QUIXOTE DE LA MANCHA.

27.10.07


O compositor popular



para Wendell Wagner



Quem me dera

compor

uma lúdicaúnica

canção

como num delírio

minha vida inteiraenvolta

de clavesnotastempos

o conflito

de entreatos dispersos

frouxa melodia

ainda incompleta

à espera

de novos elementos

mítica é a inspiração

sacralizado o suor

entre dedos ligeiros

imprecisos suntuosos

repetitivos

sobre as mesmas

mesmas teclas

na desesperada busca

da simples melódica sinfonia

eterna efêmera

a ouvidos distantes.

25.10.07


Convertida in Conversível

A bela moça baiana
desempregada cheia de dívidas
desistiu da vida tacanha
e dissipou todas as dúvidas:

trocou o olhar de menina sacana
por um semblante límpido emotivo
e aonde vai somente proclama
Jesus Cristo seu único amigo.

Primeira dama do bom pastor
se diz mulher bem preenchida
abençoada e com sorte no amor

pois desde que se tornou batista
deus derramou sobre a sua vida
carros, casas, compras à vista.

22.10.07


Luz e Melodia
para Jemes Martins

O poeta sempre é malandro:

- se desliza sutil por dentro de curvas messalinas no fogo intenso
de um amor perfeito efêmero por natureza;

- se não abre mão do verso simples abusado de destreza rara
e sabe o quanto custa caro ser inflexível
quando não há motivos
de parecer apresentável;

- se evita gritar impropérios
(versos roucos vomitados) em plena praça
é porque margem mal aceita a do papel;

- se digressivo no seu paladar poético insano
sonha explodir
num depósito qualquer todas as mulheres feias do mundo.

homenagem (de verdade) a rodrigo e marjori


Os de Marjori no de Rodrigo

" eu tento me livrar de você mas a cada banho que tomo no escorrer da água derramada do suor do dia corrido encontro fios de teu cabelo espalhados no meu corpo.

dias, meses, séculos que passem atravessam quase eternidade
os fios de teu cabelo impregnados no meu corpo.

(e até no mijo matinal encontro fios de teu cabelo entrelaçados no meu pau)."

Aos anarquistas poetas antipoéticos ou Grito


Guarda tuas palavras
para o discurso
inflamado
na hora certa inflamada
do dia certo
inflamado.

Encerra
em tua veia
raivosa
a poesia que não veio
mas insiste colher versos.

Faz assim:
cola um verso noutro,
despede a rima,
desfaz o ritmo,
objetiva, com ênfase,
a palestra de tuas lutas,
permita-se o sentido,
esclarece aos espíritos
com palavras firmes, duras,
lógicas,
e logo terás prova
de que teu grito
dilacerado
não é poesia,
é prosa.
Entreato


Não sou ator.
Pouco vou ao teatro.
Falo a verdade quando escondido às cortinas.

(sigo em meus atos na esperança de um só aplauso).

17.10.07


SPERO ACONTECER QQ MOMENTO Q PRETENDO E Q SEJA EM VÃO. (AGUARDO O CHAMADO)
– ALGUM SINAL –
DE UM ES-PAS-SO (PASSO) DE SENTIDO NENHUM.
AVES DISANDAM
SMOLAM ASAS
E JÁ NAUM SÃO AVES SE Ñ PODEM VOAR.
MANIA DE VER AS COISAS À LETRA DO PÉ, DESPREZANDO XANCES:
FEXAR OS OLHOS;
DEICHAR FRUIR MUROS;
SOPRAR VELHOS RUMOS.
A VIDA NUM SÓ SENTIDO (IDO) A EXPAÇO NENHUM.
STRANHO É SUBIR PAREDES, CONTAR NUVENS,
REFLETIR AREIA. DIZER QUE ESCREVER É SÓ VAIDADE:
E QUANTO AO RESTO: HÁNORMALIDADE.
TUDO LEVADO AO ÓBVIO ÓBVIO ÓVBIO

ENTENDIMENTO DE NENHUM (UM) SENTIDO DE ESPASÇO.
POEMA É EMBLEMA
– LEMA DE INTENÇÃO SÃ.
Lá em casa
o papagaio era bonito e não falava.

Assim como todos os papagaios
- com ou sem gaiolas.
Sem brechas para Brecht


Ter a irresponsabilidade
de Dalton Trevisan
- sem a necessária Curitiba -
é mais revolucionário
que a bandeira de Brecht.

O cinismo urbano de Machado de assis
é infinitamente mais oblíquo
que qualquer personagem proletário
de Brecht.

Até mesmo a proposital podridão de Bukowski
fede mais que os uniformes nojentos
dos dramas de Bertold Brecht.

(tudo,
pisando a grama,
como quem não sabe de placas).

15.10.07

Cachorro bobo

fisga os olhos

naquele saco

junto ao poste.


Tonto cachorro

na lucidez de degustar o saco,

tornar-se poste,

deixar a vida passar ao lado

- num caminhão de guardanapos.

11.10.07

Descompromisso


Madame

dos bons ares

desta praça de granito

dá-me cá teus serviços

beijos

toques

gemidos

porque já não guardo

comigo

nenhum amor

escondido

à espera intensa

de novos laços

pois é somente

embaraçado

que traço

as trilhas

que vão dar

no ponto exato

da veia que pulsa

a viscosa vida

que tu,

ó boca nervosa,

excita

o necessário

esguicho

onde enfim

deleito

inviolável

meu compromissado

descompromisso.

No dia


em que os comunistas


resolveram passear...


choveu.

8.10.07

Aos poetas, Libertinagem!


Quando me vi libertino
no traquejo das letras
desisti de ser o poeta feroz
das verdades inflamadas
a recitar em plena praça
a dor do mendigo
do desvalido
agredindo públicos ouvidos
com versos vomitados
incompreendidos.

Nem nunca movi
palha alguma
articulações espúrias
para tornar-me
porta-voz
de rubros partidos
soando alto
horrorosos hinos
tal fossem
suado clamor
de um povo sofrido.

Preferi a alegria
e a tristeza
introspectivo
porque enquanto poeta
não me faz sentido
fazer da pena leve
pesado martírio
fazer de meus versos
discurso apocalíptico
pois não tenho força
nem disposição
para trilhar sonoras
trincheiras.

E quando desço
inteiro
de um muro repartido
- entre panfletos partidos -
ergo no ar
soberbo
sem armas, sem gritos,


Manuel, minha bandeira.

7.10.07


mulher fria


deitada


num caixão


sem colchão


sente suave


vontade estranha


de levantar


e proclamar aos chorosos

q nada (!)


é muito diferente do q sonhas.

Fotografia 10, 1999

NEM TUDO É PERFEITO

E MUITO MENOS PERFEITO

TENTAR FOTOGRAFAR

ÁRVORE TRISTE

NA FRENTE DA CASA

QUANDO NÃO SE TRATA

DE UMA SIMPLES CASA

PORQUE SURGE

COMO UM SUSTO

TRECHO DE GRADE

ATRAPALHANDO GALHOS.

6.10.07

O deslumbramento


Vi uma galinha
entre duas árvores
no céu azul
dos dias de infância.

Alva galinha,
linda poedeira,
entre duas árvores
secas e brancas.

Quero tudo de volta
– e não é por maldade
que quero a galinha.

Permaneçam de pé
as duas árvores da infância
pois que a alta idade me fez entender
que tudo são nuvens

- nem sempre são brancas.


SEI QUE O MEDO TRANSCENDE PORQUE PARA O MEDO PAREDE É CHÃO AINDA QUE EM CERTOS CASOS CASO O CASO SEJA EXTREMO O MEDO DO CHÃO NÃO PASSA DE MODO QUE TRANQUILIZA QUEM O POSSUI ENQUANTO QUEM O CAUSA SOFRE O MEDO CONTIDO DE QUE APAREÇA ALGUÉM POR TRÁS RENDENDO-O ENQUANTO RENDE.

5.10.07


Isso

Embora de mim
queira a vida um passo
disfarço
e crio embaraço
em tudo
onde há vida:

se há milho, sou
espantalho;
se há lixo, sou bagaço.

Tudo em
seu devido espaço.

Porque a vida
de mim
quer um passo
eu dela
faço
isso.

3.10.07


DEUS QUE USA,


ABUSA,


DESUSA.

DEUS USURÁRIO


QUE SE SENTE MUSA:


DEUSA.
Sacro


Comer o pão.

Sofrer com moedas pelo pão.

Ter na mesa,
absoluto,
o pão.

A vida resumida em amido.
Talvez manteiga.

Mas,
imprescindível,
o pão.

1.10.07

Leitura néon-reciclada


Despetalo
do olfato
o gosto pelo cheiro
de livro velho
livro novo
e adapto-me
a um novo formato
do qual a brochura
- outrora
imprescindível
enfeite cabível na estante -
já não vincula páginas
porque hoje
discorro os olhos
sobre a luminosidade
agressiva
sem cheiro e tato preenchido
posto que a matéria
não mais palpável
morre
imune
a rabiscos riscos
dobras e rasuras
fixada que está em tela
luzes e cliques.
Jesus

jesus de maria
de nazaré
menino nascido em belém
percorreu toda a jerusalém
quase sempre a pé
e nessas andanças
sem compromisso
após o diabo ter visto
desistiu de perder o cabaço
para desde então
suportar a zanga certa
de fogosas judias
que resmungavam:
“que desperdício”
e se achando
o proclamado cristo
reinventou a terra prometida
e sempre que encharcado de vinho
– como se não houvesse risco –
pregava a quem lhe desse ouvido
que era o caminho
a verdade
a vida.