26.12.07

PATÉTICA


Desisto de ser poeta. Desisto
da velha farsa que me leva a receber
dinheiro nenhum.

Não quero mais o pássaro
- entre rodas velozes -
bebericando água no buraco
do asfalto quente.

Desisto da poesia em si
in mim.

Quero me sentar na cadeira numerada,
tomar chá com bons velhinhos,
ler palavras difíceis,
ajeitando os óculos no nariz
e rir a vida, moderadamente.

(quero a imortalidade de poéticos
e não-poéticos).

Mais que poesia:
prefiro ser patético.

14.12.07

AMOR LÍQUIDO

para Gal...Costa,
minha honey baby!



e a tão temida

desatenção

hoje enfim

me toca os poros

se me desfaço

das profundas sensações

numa busca

quase perdida

de ser leve

no prazer de amar

sem a necessária

entrega da alma

pois já basta o corpo

entregue

q faz sua parte

estirado ao deleite

q ligeiro fenece

pouco esfrega

e nunca

absolutamente

nunca

lembra

pq de tão rápido

liso raso e rasteiro

é sem cheiro

e pálido

esquece.

Ilúdico



Cansado de paixões ligeiras
arrebato-me à razão: um coração sem ninho.
Espero o momento certo
sentado e furtado
de grandes esperanças
(imune a passos rápidos)
o amor bater-me às pálpebras
e introduzir em mim
o passo fundo
lento
escasso
num coração gélido
de sensações insanas
posto que a espera
feita cômoda
tirou-me a agonia
dos delírios
das delícias
dos arremedos
da paixão.

Arma branca



Faca é arma
sem dimensão exata
de alvo preciso
à intencionada morte.

Faca
quando amolada
fere plácida
ao mínimo toque.

Tenho em casa
variadas facas
que à sorte
olhos fechados
escolho uma
para o passeio da enluarada noite.

De trás da moita
surjo
aos olhos tementes
da vítima
que sofrerá o golpe fatal de minha faca.



Faca de pão.

Adiada a intencionada morte.

9.12.07

Uma emoção para Marah Eva


quero fazer uma poesia

q de tão solta

por dentro

do céu

da tua boca

torne a vida

muito menos

pouca

e q ao redor

de nós

seja tudo

valsa

no mais infâme

passo de bossa

ou qualquer música

q possa

fazer-nos

minguantes

em torno

de uma


lua: diamantes.

áspero
é o contorno
dos meus dedos
sobre teu corpo...

e
corro descarado
dedilhando
teus buracos
dos imprecisos
aos improváveis
até os explícitos
legítimos buracos
criando trilhas
envolvendo tangentes...

e é quando
cuspo nos dedos
o caminho deslizável
até avistar
como náufrago
em pleno mar
a terra firme
onde afinco os dedos
- terra de ninguém
onde nem buracos tem.

um passo em falso não é passo errado talvez sim seja a maneira mais prática menos drástica de se caminhar tal fosse nuvens sob os pés descalços embora faça-se eterno pensar estar pisando errado e como num temor de parecer desleixado disfarça-se cobrir buracos com os pés feridos e calejados.

O TEMPO EM HORAS


Horas tensas que passem não me dizem nada
pois no pulso trago
um relógio de ponteiros
vagarosos e inclino todo o meu dia
a este tempo sem espera e pressa
num andar deslizar sobre as calçadas.

Porque tenho este relógio
as horas tensas
em greve
não passam.

26.11.07


AS IDÉIAS
PRECISAM SER INTENSAS
REPLETAS AINDA QUE REPETIDAS
CONFUNDIDAS FODIDAS
MAS INTENSAS.
AS IDÉIAS
PARA SEREM INTENSAS
NÃO PRECISAM DE METAS
QUE AS DEIXEM NA INÉRCIA
REPLETA DE PALAVRAS LÓGICAS
TENSAS.
DESDE QUE SEJAM INTENSAS
NÃO INTERESSA
COMO VENHAM
AS IDÉIAS.
DESDE QUE SEJAM INTENSAS
SÃO IDÉIAS. AINDA QUE INCOMPL.
na banca de revistas
sempre
a olhos nus
lacrimejantes
vejo a vida
q se anuncia:
não é trágica
nem tão
macia
pq na banca
a avessa poesia
é cínica
como os poemas
q não julgam
não
geram nada
apenas a cênica
beleza
das tantas folhas
em sincronia
ta fosse a banca
de revistas
uma única
absoluta
revista
imensa intensa
sem tristeza
ou alegria: tal fosse
a banca, de revistas,
plástica.

MESMO A COINCIDENCIA - MERA SIGNIFICÂNCIA DO ACASO - SOFRE INFALÍVEL O ENCAIXE PERFEITO DE PEÇAS POSTAS NO PRECISO MOMENTO EM QUE SE ENCONTRAM E LOGO SE COMPLETAM PARA O QUE SE PROCLAMA ASSIM COINCIDÊNCIA TORNAR-SE VIVO EM NOVO FORMATO LÓGICA NOVO VERNÁCULO:

DESTINO.

Para João



Quando
enfim
soubemos quem você era
chovia em Salvador.

Embora não seja convincente
pintar de belas cores
dia chuvoso em Salvador
fazia sol
quando soubemos
enfim
quem você era.

ULTIMAMENTE TENHO CONFUNDIDO O BICHO VERDE COM ESSA ÂNSIA QUE ME LEVA A PÉS ATADOS, QUE ME PREENCHE AS MÃOS COM OS PRÓPRIOS DEDOS, E ME REPLETA DO CONSOLO DE PENSAR SABER QUE TUDO O QUE QUERO E ALMEJO ESTÁ ALÉM DO BICHO VERDE QUE VEJO.

24.11.07

homenagem à minha doce amiga Isabel


O gosto dos lábios de Isabel

sinto pelo cheiro

do batom - vermelho.


Embora intenso

o desejo

de um toque além

de perto

adoço-me os lábios

com a imagem

q faço

do rubro beijo

de Isabel

só pq

não me ouso

tal impacto

pois é fato

q pretencioso

ao mínimo tato

no corpo

rosto

gosto de Isabel

minhas mãos

repletas

de britadeira

farão da pedra deste coração

a doce lama

de uma efêmera

paixão.

22.11.07


Mãos. Ouvidos.
Boca. Nariz.
Olhos.

A vida tem sentidos.

21.11.07



SE AMAR DE VERDADE
FOSSE MESMO POPULAR,

NÃO TENHA DÚVIDAS, AMOR,


FARIA QUESTÃO DE TE ODIAR.

ah
procuro
tanto
Mariana
tanto
procuro
que busco
seu rosto
apenas
seu rosto
na multidão
que assim
se chama
porque nunca
saberei de outros
rostos
enquanto
é no rosto
de Mariana
que me procuro.

para Jedjane


Desajuste


DEIXE COMO ESTÁ.

JURO QUE A QUERO
MAS PREFIRO NÃO TÊ-LA,
POIS QUERENDO-A
PARA TÊ-LA
TODO O MEU QUERER VIRÁ A SER

A POSSE
O POÇO
A POSE.

OFURTODOFRUTOÉPRETO

PORPERTOPRETOPORPER

TOÉFURTODOFRUTOFRU

TODOFURTOÉPRETOPOR

PERTOPRETOPORFURTOÉ

PERTODOFRUTOFRUTODO

PRETOÉPERTOPORFURTOF

URTOPORPERTOÉFRUTODOP

RETOFRUTOPORPERTOÉFU

RTODOPRETOFURTODOPRE

TOÉFRUTOPORPERTOPRETOP

ORPERTOÉFRUTODOFURTO

O último livro de Clarice


A estrela brilha
num canto bem canto do céu.

Como um conto:
brilha a estrela na vida

que a arte imita,
escreve,
irrita.

A hora dessa estrela nunca passa.

Nunca passa do assobio,
da saída discreta,
do lamento de um blue.

A rádio Relógio narra o fim

trágico,
ágil,
mágico
com chuva caindo,
silêncio e carro sofisticado.

O vôo de Macabéa.
O corpo em livramento de si.
De nós.

12.11.07

SONETO REFRIGERANTE

Coca-Cola é espumante
embora não mais como antes
(no tempo em que a bebida preta
fazia parte de toda mesa).

Caetano saudara a Coca
como Milton cantou-a tão bem
e fosse no tempo das canções compostas
Maradona a saudaria também.

E o gosto que a Coca tinha
– nosso velho desentupidor de pia –
certamente não fez escola

pois até Pitu agora tem cola
e depois de Frevo, Tubaína, Tinguá
Schin-Cola, com fé em Deus, há de vingar.

10.11.07

Arranjo abuso (para Antônio Abujamra)

Palco é precipício
passo raso falso risco
quando possível
incerto e plástico
de impacto previsível
ou talvez
dor inteira
no instante mínimo
em que se faz laica
a vida
em risos, rumores,
vaias, choros, mitos,
é ainda assim
o silêncio interno
fingir explícito
a múltiplos cúmplices
e por fim
sedento de aplausos
o pé tão firme
em chão descalço
exige de si
o alívio, o delírio
de ir além do recuo:
à queda imprescindível.

7.11.07

Um golpe de Estado da Bahia

Vaso ruim não quebra
isso eu bem sei de cor
mas vaso pequeno ainda é pior
nem com facada se esfacela.

E quem pousa de marionete
cantando certa a vitória
não imaginava que a história
na hora H também se inverte.

O primeiro passo já foi dado
mas o trabalho não está completo
falta ainda o golpe mais apurado:

tirar ACM de dentro do Congresso
e esfaquear com muito mais cuidado
para enfim matar o ACM Neto.

6.11.07

Crime

E depois do delito cometido

um cigarro, um alívio


não porque paire sobre a cabeça


qualquer peso que na consciência


convide-me à premissa


de futuros pesadelos


a condenar


interrompido


meu sono profundo.


(é apenas a humilde vontade de fumar um cigarro
como quem contempla pasmo o artesanato próprio
de um crime perfeito).
almas sentadas
em cadeiras numeradas
tomando chá
em xícaras
apoiadas nos
poucos versos
q escrevo
almamente. . .


mortais?

Em favor da prosa

NADA DE POESIA.
EU PREFIRO PROSA.
PIOR PRA QUEM SE OUSA
INVENTAR VERSOS E MELODIAS.

NÃO VERSEJO MINHAS PALAVRAS
POSTO QUE NA ESCRITA SE LAVRA
À MEDIDA QUE SE ENCAIXA
A PALAVRA CERTA NA HORA EXATA.

PORQUE A POESIA É SUBJETIVA
E DIZ POUCO – QUASE DESDIZ –
VERDADES, MENTIRAS OU LENDAS,

NÃO ABRO MÃO DO QUE SE OBJETIVA
A DIZER COM OS PONTOS NOS IS
MENTIRAS, VERDADES E LENDAS.

5.11.07

Dedico este poema a:

Vinicius de Moraes,
Gil Vicente, Luiz Melodia,
Clara Nunes, Toninho Vaz,
João do Rio, Henfil, Antônio Maria.

Gal Costa, Marta Rocha, Diadorim,
Cláudio Marzo, Chaves, Lula, Sai Baba,
Hebe Camargo, Fidel Castro, Esperidião Amim,
Srila Prabuphada.

Carlos Drummond de Andrade,
Dona Zica, Oswald, Mauro Naves,
Ronnie Von, Castro Alves, Mário de Andrade,

Kajuru, Leila Diniz, Paula Burlamaqui,
Bento XVI, Caetano Veloso, Helena Ranaldi,
Vera Fischer, Glauco Mattoso, Chico Buarque.

1.11.07

Eva viu a vida


Eva
entre panelas
ganha aspecto de Narciso
e
dorme encolhida
no sofá
que sofre os roncos
da bebida mal bebida
por Eva
que só depois
de muito amar
e filhos ter
descobriu que a vida
é muito mais do que
a tábua de passar.

Aos poetas da praça.

O poeta
na praça
dedilha as cordas
vocais
afinando
um tom acima
seu mais perfeito
verso. Aquele
verso
que em sua poética
pretensão
há-de entornar nos ouvidos
passantes ou parados
da praça
o gosto pálido da vida.

O verso que nem pedra.

Que enfim
inverta os caminhos
desdirecione os ouvidos:

um verso apenas
mais que emenda
e que num primeiro passo
- seguro passo em voz e asco -
expulse da praça
os fervorosos servos de Deus.

Soneto do amor temperado para a musa eternizada



Desde o dia que te comi
não tenho paz, não tenho sossego
e fico intrigado contando nos dedos
as poucas punhetas que nesse tempo bati.

Fito meu pau que já não é o mesmo
parece mais grosso do que no começo
e tua boceta tão rara molhada
hoje só de olhá-la já fica encharcada.

E mesmo quando sem jeito
roço meu cotovelo em teu peito
teu corpo logo se assanha:

decerto é amor que fica
(conheço tuas entranhas
com a palma da minha pica).

31.10.07

Epitáfio para a minha irreversível morte



E é o dia


da ida


que adia


a vida.
Escassos pêlos


As pernas brancas que jamais beijei
estão molhadas como todo o corpo
e é o jorrar da água neste todo
que eleva a alma em ponto alto
esquerdo
torto.

Por esta brecha um olho só invade
- testemunha purificação.

Sabonete insensual te percorre.
Estás de costas
e de um ponto raro
escassos pêlos.

Quem me dera
se se virasse
sabendo que te vejo.

Mas o pouco que me ilude
desilude
dissolve n’água
quando a toalha
te preenche o corpo
te esvazia a alma.
Do mesmo ponto raro
não mais escassos pêlos.

30.10.07

Soneto do amor de menos


Coração trancafiado a sete chaves
toco a puta com o dedo obsceno
e já exausto das sensações mais leves
transformo o olhar contemplativo em
[insano.

O ritmo ligeiro que nela introduzo
desfigurado de um toque sutil e comedido
irrita minha puta que ora faz de tudo
para tornar-me um homem menos ofensivo.

É que no dia em que amei a puta
a duras penas recebi carinho
de tal maneira nada mais me assusta

que hoje contente por estar sozinho
busco um prazer que apenas me console
- amar demais me deixa de pau mole.

28.10.07

Instante


Bastam poucos minutos concretos
dentro do cemitério
e logo a vida
que vai ali morrida
parece ação rotineira
dos dias corridos.

No doloroso momento
em que vai sepultado o corpo
a frieza do coveiro me alivia.

O frio movimento braçal do coveiro.

NO CAIS NA NOITE NA LANCHA O CAOS EM AÇOITE DESLANCHA NO CAIS NA NOITE O CAOS EM AÇOITE DESLANCHA NO CAIS NA LANCHA O CAOS EM AÇOITE DESLANCHA NO CAOS EM AÇOITE DESLANCHA NA LANCHA O CAOS EM AÇOITE NO CAIS NA NOITE NA LANCHA O CAOS DESLANCHA NO CAIS EM AÇOITE DESLANCHA NO CAIS NA LANCHA EM AÇOITE DESLANCHA NO CAIS O CAOS EM AÇOITE NA NOITE NA LANCHA O CAOS DESLANCHA NO CAIS NA NOITE NA LANCHA DESLANCHA NO CAIS NA NOITE NA LANCHA O CAOS EM AÇOITE NO CAIS O CAOS NA LANCHA O CAOS DESLANCHA NO CAIS NA NOITE NA LANCHA NO CAIS NA NOITE NA LANCHA EM AÇOITE DESLANCHA NO CAIS NA NOITE NA LANCHA NA LANCHA O CAOS EM AÇOITE DESLANCHA NO CAIS NA NOITE EM AÇOITE O CAOS DESLANCHA NO CAIS NA NOITE NA LANCHA O CAOS NA NOITE NA LANCHA O CAOS DESLANCHA NO CAIS EM AÇOITE DESLANCHA NO CAIS NA NOITE NA LANCHA EM AÇOITE DESLANCHA NO CAIS NA NOITE EM AÇOITE NA LANCHA O CAOS DESLANCHA NO CAIS NA NOITE DESLANCHA NO CAIS NA NOITE NA LANCHA NO CAIS NA LANCHA O CAOS DESLANCHA NO CAIS NA NOITE NA LANCHA NO CAIS NA NOITE NA LANCHA EM AÇOITE DESLANCHA NO CAIS NA NOITE NA LANCHA O CAOS EM AÇOITE NO CAIS NA LANCHA O CAOS DESLANCHA NA LANCHA O CAOS EM AÇOITE DESLANCHA NO CAIS NA NOITE NA LANCHA O CAOS EM AÇOITE NA LANCHA NO CAIS NA LANCHA O CAOS EM AÇOITE NO CAIS NA LANCHA NA NOITE O CAOS NO CAIS NA NOITE NA LANCHA DOM QUIXOTE DE LA MANCHA.

27.10.07


O compositor popular



para Wendell Wagner



Quem me dera

compor

uma lúdicaúnica

canção

como num delírio

minha vida inteiraenvolta

de clavesnotastempos

o conflito

de entreatos dispersos

frouxa melodia

ainda incompleta

à espera

de novos elementos

mítica é a inspiração

sacralizado o suor

entre dedos ligeiros

imprecisos suntuosos

repetitivos

sobre as mesmas

mesmas teclas

na desesperada busca

da simples melódica sinfonia

eterna efêmera

a ouvidos distantes.

25.10.07


Convertida in Conversível

A bela moça baiana
desempregada cheia de dívidas
desistiu da vida tacanha
e dissipou todas as dúvidas:

trocou o olhar de menina sacana
por um semblante límpido emotivo
e aonde vai somente proclama
Jesus Cristo seu único amigo.

Primeira dama do bom pastor
se diz mulher bem preenchida
abençoada e com sorte no amor

pois desde que se tornou batista
deus derramou sobre a sua vida
carros, casas, compras à vista.

22.10.07


Luz e Melodia
para Jemes Martins

O poeta sempre é malandro:

- se desliza sutil por dentro de curvas messalinas no fogo intenso
de um amor perfeito efêmero por natureza;

- se não abre mão do verso simples abusado de destreza rara
e sabe o quanto custa caro ser inflexível
quando não há motivos
de parecer apresentável;

- se evita gritar impropérios
(versos roucos vomitados) em plena praça
é porque margem mal aceita a do papel;

- se digressivo no seu paladar poético insano
sonha explodir
num depósito qualquer todas as mulheres feias do mundo.

homenagem (de verdade) a rodrigo e marjori


Os de Marjori no de Rodrigo

" eu tento me livrar de você mas a cada banho que tomo no escorrer da água derramada do suor do dia corrido encontro fios de teu cabelo espalhados no meu corpo.

dias, meses, séculos que passem atravessam quase eternidade
os fios de teu cabelo impregnados no meu corpo.

(e até no mijo matinal encontro fios de teu cabelo entrelaçados no meu pau)."

Aos anarquistas poetas antipoéticos ou Grito


Guarda tuas palavras
para o discurso
inflamado
na hora certa inflamada
do dia certo
inflamado.

Encerra
em tua veia
raivosa
a poesia que não veio
mas insiste colher versos.

Faz assim:
cola um verso noutro,
despede a rima,
desfaz o ritmo,
objetiva, com ênfase,
a palestra de tuas lutas,
permita-se o sentido,
esclarece aos espíritos
com palavras firmes, duras,
lógicas,
e logo terás prova
de que teu grito
dilacerado
não é poesia,
é prosa.
Entreato


Não sou ator.
Pouco vou ao teatro.
Falo a verdade quando escondido às cortinas.

(sigo em meus atos na esperança de um só aplauso).

17.10.07


SPERO ACONTECER QQ MOMENTO Q PRETENDO E Q SEJA EM VÃO. (AGUARDO O CHAMADO)
– ALGUM SINAL –
DE UM ES-PAS-SO (PASSO) DE SENTIDO NENHUM.
AVES DISANDAM
SMOLAM ASAS
E JÁ NAUM SÃO AVES SE Ñ PODEM VOAR.
MANIA DE VER AS COISAS À LETRA DO PÉ, DESPREZANDO XANCES:
FEXAR OS OLHOS;
DEICHAR FRUIR MUROS;
SOPRAR VELHOS RUMOS.
A VIDA NUM SÓ SENTIDO (IDO) A EXPAÇO NENHUM.
STRANHO É SUBIR PAREDES, CONTAR NUVENS,
REFLETIR AREIA. DIZER QUE ESCREVER É SÓ VAIDADE:
E QUANTO AO RESTO: HÁNORMALIDADE.
TUDO LEVADO AO ÓBVIO ÓBVIO ÓVBIO

ENTENDIMENTO DE NENHUM (UM) SENTIDO DE ESPASÇO.
POEMA É EMBLEMA
– LEMA DE INTENÇÃO SÃ.
Lá em casa
o papagaio era bonito e não falava.

Assim como todos os papagaios
- com ou sem gaiolas.
Sem brechas para Brecht


Ter a irresponsabilidade
de Dalton Trevisan
- sem a necessária Curitiba -
é mais revolucionário
que a bandeira de Brecht.

O cinismo urbano de Machado de assis
é infinitamente mais oblíquo
que qualquer personagem proletário
de Brecht.

Até mesmo a proposital podridão de Bukowski
fede mais que os uniformes nojentos
dos dramas de Bertold Brecht.

(tudo,
pisando a grama,
como quem não sabe de placas).

15.10.07

Cachorro bobo

fisga os olhos

naquele saco

junto ao poste.


Tonto cachorro

na lucidez de degustar o saco,

tornar-se poste,

deixar a vida passar ao lado

- num caminhão de guardanapos.

11.10.07

Descompromisso


Madame

dos bons ares

desta praça de granito

dá-me cá teus serviços

beijos

toques

gemidos

porque já não guardo

comigo

nenhum amor

escondido

à espera intensa

de novos laços

pois é somente

embaraçado

que traço

as trilhas

que vão dar

no ponto exato

da veia que pulsa

a viscosa vida

que tu,

ó boca nervosa,

excita

o necessário

esguicho

onde enfim

deleito

inviolável

meu compromissado

descompromisso.

No dia


em que os comunistas


resolveram passear...


choveu.

8.10.07

Aos poetas, Libertinagem!


Quando me vi libertino
no traquejo das letras
desisti de ser o poeta feroz
das verdades inflamadas
a recitar em plena praça
a dor do mendigo
do desvalido
agredindo públicos ouvidos
com versos vomitados
incompreendidos.

Nem nunca movi
palha alguma
articulações espúrias
para tornar-me
porta-voz
de rubros partidos
soando alto
horrorosos hinos
tal fossem
suado clamor
de um povo sofrido.

Preferi a alegria
e a tristeza
introspectivo
porque enquanto poeta
não me faz sentido
fazer da pena leve
pesado martírio
fazer de meus versos
discurso apocalíptico
pois não tenho força
nem disposição
para trilhar sonoras
trincheiras.

E quando desço
inteiro
de um muro repartido
- entre panfletos partidos -
ergo no ar
soberbo
sem armas, sem gritos,


Manuel, minha bandeira.

7.10.07


mulher fria


deitada


num caixão


sem colchão


sente suave


vontade estranha


de levantar


e proclamar aos chorosos

q nada (!)


é muito diferente do q sonhas.